segunda-feira, dezembro 20

aceitei como tu aceitaste

aceita como eu aceitei: não vamos voltar ao que fomos.
o nosso amor não morreu mas não vai voltar, já não somos quem éramos, já não sinto o que sentia. esse amor tornou-se miragem e fossilizou dividido entre nós, o vento e a distância vão apagar o que restou dele. as cicatrizes são cada vez menos perceptíveis e as lágrimas já não correm, já não há um oásis de sal nos meus olhos guardado para ti.
parte de mim vai pertencer-te sempre, roubaste muito de mim e o resto eu ofereci, leva os despojos desta guerra que acabou sem sangue, leva as recordações e o meu retrato contigo, mas não me peças que volte.
eu vou manter a tua face fresca na memória até que o tempo lhe tire as cores, serás então uma ruína sagrada no mais íntimo de mim. um templo abandonado.
vou esconder o teu retrato debaixo dos lençóis e olhá-lo todas as noites em que acordar com saudades. não desejo matá-las, matá-las seria trair, apenas adormece-las para estancar a dor. vou olhar nos teus olhos, e dizer "já não te quero, já não somos um do outro" e esperar que seja (mesmo) verdade.
afasta-te agora de mim, rápido para eu não te sentir partir. como um tiro apontado ao coração, fulmina-me de uma vez e deixa que morra para ti. pode ser que um dia mais tarde, um milagre me traga de volta, mas não guardes esperanças pois as minhas já há muito desapareceram.

ambos aceitámos.

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