sábado, abril 9

 "O que mais deixei para trás, em cada "viagem" que fiz, foram os amigos que não voltei a ver. Amigos verdadeiros, instantâneos, instintivos, amigos do peito, para toda a vida. Cá dentro, sou uma portuguesa macambúzio, fechada sobre si mesma. Lá fora, sobretudo quando viajo sozinha, sou uma mulher nova, sem país, sem destino, sem passado nem futuro: apenas o tempo que passo. E assim, porque sou verdadeiramente livre e desconhecida, acontece-me frequentemente tornar-me intima amiga de pessoas que acabei de conhecer à meia dúzia de horas. Tudo é genuíno e generoso nesses encontros e, quanto maiores são as diferenças, mais evidente se torna o que é essencial nas relações entre as pessoas. Não esperamos nada uns dos outros, apenas o privilégio de viajar juntos, beber qualquer coisa juntos, ficar à conversa por uma noite a diante.
Disse-me uma vez, numa dessas constragentes despedidas, um amigo: "Os que não morrem, encontram-se". Mas aprendi que não era verdade, infelizmente. Quando muito, poderia talvez acreditar que os que se encontram nunca mais morrem na nossa memória. Mesmo que pareçam tão-somente assim, esporadicamente, do fundo de um gaveta, onde vive, arquivada, a luz dos dias felizes." SIC

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